Conheça aqui a história da nossa Confeitaria...
A história da doçaria conventual em Figueiró dos Vinhos remonta a 1540, ano em que foi aqui fundado o Mosteiro de Nossa Senhora da Consolação, que viria um dia a ser conhecido como O Mosteiro de Santa Clara de Figueiró dos Vinhos. Para aqui vieram freiras principalmente oriundas do Convento de Santa Clara de Coimbra e aqui criaram as mais refinadas receitas de doçaria conventual que mantiveram em segredo ao longo dos Séculos.
Hoje poucos vestígios há deste mosteiro, mas situava-se na Quinta da Cerca, lado a lado com a fonte que é ainda conhecida como Fonte das Freiras, muito próximo da localização actual da Confeitaria Santa Luzia®.
No século XIX com a extinção das Ordens Religiosas este mosteiro foi encerrado, e é então que uma parte senão o todo destas receitas foram passadas por uma freira a uma familiar, Maria Adelaide de Sousa Craveiro.
António Henriques Pereira Baeta e Vasconcellos, distinto membro da burguesia local, propõe um acordo a Maria Adelaide de Sousa Craveiro detentora das originais receitas conventuais, e assim fundariam em 1893 a primeira fábrica de doçaria em Figueiró dos Vinhos, cuja estrela seria o famoso pão-de-ló, assumindo António Vasconcellos a gerência da mesma.
Maria Adelaide de Sousa Craveiro não tinha filhos, mas tinha a seu encargo a sua afilhada, Madalena Cunha, nascida em 1888 e órfã desde muito nova. Nesta altura era comum começar a trabalhar desde tenra idade, e assim, por volta de 1900 Maria Adelaide assegura a iniciação de Madalena Cunha, à data apenas com 12 anos, na laboração nesta fábrica de doçaria.
António de Vasconcellos passa a designar o pão-de-ló como produto da “Fábrica de Pão-de-Ló de Santo António dos Milagres”, e para o qual concebeu uma “forma” especial para o seu fabrico exclusivo, registando a sua patente.
A fama do sabor do Pão-de-ló de Figueiró dos Vinhos rapidamente ultrapassaria as fronteiras locais e regionais, abrindo filiais em Pombal, Lisboa e Porto. Do estrangeiro começam também a chegar muitas encomendas, a tal ponto da imprensa da época em 1908 noticiar, que “na presente semana, no fabrico do pão-de-ló e outros artigos de doce, a fábrica tinha consumido mil cento e tantas dúzias de ovos! Chega-se a gente a não saber aonde haja tantas galinhas para produzirem semelhante quantidade d’ovos!!”.
A fábrica atingira um tal nível de produção que quase não chegava para satisfazer o volume de encomendas.
No curriculum da “Fábrica de Santo António dos Milagres” realça-se um diploma de 1916, assinado por Teófilo Braga, atestando uma medalha de ouro que lhe foi atribuída pela Junta Geral do Distrito de Leiria, na sequência da exposição industrial e agrícola desse ano.
o Pão-de-Ló de Figueiró dos Vinhos era solidamente reconhecido pela imprensa como um dos “maiores atractivos” do concelho e da região, espalhando-se a sua fama pelo país.
Por esta altura com mais de 20 anos de experiência na produção de Pão-de-Ló e todos os tipos de doces conventuais, Madalena Cunha era a doceira principal da Fábrica de Santo António dos Milagres.
Após a morte de António de Vasconcellos, ocorrida em 1937, por ausência de filhos, seria a sua afilhada, Maria do Céu Quaresma Lopes Bruno, que assumiria a gerência da fábrica conjuntamente com o marido, Ângelo David e Silva.
com o falecimento de Maria Adelaide de Sousa Craveiro, Madalena Cunha herda o estatuto de sua madrinha no acordo realizado com António Vasconcellos, mas com o decurso dos anos, percebe que os novos gerentes não possuíam a mesma visão nem determinação dos originais fundadores, e que o negócio começa com isso a ressentir-se.
As divergências entre Madalena Cunha e os novos gerentes intensificam-se, tendo culminado em 1955, na sua saída da “Fábrica de Santo António dos Milagres” sem qualquer espécie de contrapartida.
Mas uma vida de dedicação à arte da doçaria conventual e um grande percurso de aprendizado junto dos seus mentores, António Vasconcellos e Maria Adelaide de Sousa Craveiro, criaram em si a determinação de lutar com todas as suas forças por preservar este património tão rico que é o da Doçaria Conventual de Figueiró dos Vinhos, e assim, propõe à sua sobrinha e afilhada, Maria Manuela Cunha de Carvalho, a criação de uma nova fábrica de doçaria conventual.
É assim que nasce em 1962 a Confeitaria Santa Luzia®, Fábrica de Pão de Ló de Figueiró dos Vinhos. Tia e sobrinha abraçam o desafio da criação de um novo empreendimento, baseado na visão de António Vasconcellos e nas mesmas receitas originais de Maria Adelaide de Sousa Craveiro, mas agora sob a gerência de António da Conceição Campos, marido de Maria Manuela.
com o falecimento de Madalena Cunha, Maria Manuela promete a si mesma nunca desistir de lutar por este legado, e desde então assegurou continuamente até 2016 a produção da doçaria conventual em Figueiró dos Vinhos, quer contratando funcionárias para a ajudar na produção, quer com ajudas pontuais de seus familiares.
Maria Manuela Dias filha de Maria Manuela Cunha de Carvalho reforma-se da sua actividade profissional, e inicia desde logo participação contínua na produção de doçaria, com o objectivo de ajudar sua mãe a manter o negócio aberto e a visão original de seus fundadores, apesar das fortes crises económicas que Portugal tem enfrentado.
O que hoje existe é o resultado deste empreendimento de grande esforço e determinação, quer de Madalena Cunha quer de Maria Manuela Cunha de Carvalho, que conseguiu garantir a continuidade e acima de tudo a qualidade da doçaria conventual de Figueiró dos Vinhos.
Do alto dos seus 92 anos de idade, Maria Manuela Cunha de Carvalho ainda acompanha diariamente as actividades da confeitaria e a gestão do seu legado, agora assegurado por Maria Manuela Dias, sua filha e actual doceira principal da Confeitaria Santa Luzia®.